terça-feira, 9 de dezembro de 2008

“London Calling”

O segredo para desfrutar em pleno de uma visita, mais ou menos prolongada, a Londres é não ter pressa, nem a ilusão de que conseguimos ver tudo e, sobretudo, saber aproveitar os simples prazeres títpicos da capital inglesa. Num primeiro momento, esqueçamos os museus, os monumentos e as lojas cheias de gente do West End. Comecemos por explorar as ruas e mercados (Brick Lane e Portobello Road são ideais para encontrar roupas e adereços e Borough é o mercado de comida mais antigo de Londres), por passear pelos parques (Hyde Park, Kensington Gardens, St. James Park ou Regent’s Park) e por cavaquear num pub, à frente de uma cerveja quente e escura, extraída de um barril de carvalho, ou apenas tomar o “chá das cinco” no Ritz, no Dorchester ou no Browns. Podemos, ainda, fazer-nos ao rio nas Docklands, no Docklands Waterports Centre, ou, tão-somente, explorar a cidade a partir de um cruzeiro no Tamisa que nos leva até Greenwich.
Despois de uma primeira aproximação à verdadeira alma da cidade, estamos prontos para nos embrenharmos na sua grandiosidade histórica e cultural, sem esquecer de ir aproveitando a comida tão apreciada por Charles Dickens e Oscar Wilde; uma tarte quente ou um pudim de Yorkshire caem bem a qualquer hora do dia.
Londres é a mais velha das grandes cidades do mundo moderno; mantém intocadas as suas praças cobertas de folhas, os seus parques e as suas pequenas igrejas, mas tem vindo a mudar e a desenvolver-se. Verificamos que a zona portuária está a ser revitalizada e descobrimos novos pontos de referência, como o London Eye (Olho de Londres) – a maior roda do mundo, fruto das celebrações do Milénio, que se ergue a 135 metros sobre o Tamisa, oferecendo uma vista panorâmica sobre a cidade – ou a Swiss Re Tower, de Norman Foster (conhecida como o Pepino, devido ao seu formato). Lemos algures que a superfície do East End será restaurada nos próximos anos, anunciando os Jogos Olímpicos de 2012.
Iniciamos o segundo dia, e todos os que se seguem, com um estimulante pequeno-almoço, bem ao jeito britânico; ovos, bacon, cogumelos, feijões assados e tostas e sentimo-nos preparados para palmilhar a cidade sem receio de desfalecer a meio caminho. Partimos rumo às visitas obrigatórias.
Fundado em 1753 a partir da colecção de Sir Hans Sloane, o British Museum alberga uma extensa colecção de antiguidades. Deliciamo-nos com a melhor colecção de relógios do mundo e temos a sorte de ouvir a ‘sinfonia’ de todos os relógios a baterem as horas em uníssono. As Casa do Parlamento, sede actual do Governo Britânico, datam de 1050, quando William, o Conquistador construiu o Westminster Palace neste local. Admiramos a famosa torre do relógio, mais conhecida por Big Ben, que na verdade é o nome do sino de 13 toneladas que marca cada hora que passa com as suas badaladas, e ficamos a saber que de noite, quando o Parlamento está reunido, surge uma luz sobre o ‘rosto’ do Big Ben.
A National Gallery possui uma invejável colecção de 2.000 quadros, representativos da arte ocidental. Na Ala Sainsbury encontramos as obras mais antigas, pintadas entre 1260 e 1510 e não deixamos escapar o desenho de Leonardo da Vinci, “A Virgem e o Menino” e a “Vénus e Marte”, de Boticcelli.
Após alguma hesitação, entramos no National History Museum; não resistimos a sentir o Poder Vindo do Interior, uma simulação de um tremor de terra real acompanhada por incríveis filmagens de vulcões e dos seus efeitos devastadores. Uma experiência impressionante que nos faz concordar em terminar as visitas “de peso” por ali. Ainda é relativamente cedo, pelo que nos dirigimos para Convent Garden (The Piazza). Planeada ao estilo italiano, pelo arquitecto Inigo Jones (séculos XVI/XVII), esta é a mais continental das praças londrinas; lojas, boutiques, wine bars e snack bars, malabaristas, músicos, palhaços e actores de improviso fazem-nos esquecer abalos de terra e vulcões.
A manhã acorda cinzenta e húmida, o famoso “fog” cobre a cidade, mas não nos deixamos abater e lançamo-nos a mais um dia de descobertas. Não damos pelo frio enquanto nos embevecemos com a fachada ocidental da Saint Paul’s Cathedral, a igreja mãe da diocese de Londres, obra suprema de Sir Christopher Wren. Entramos finalmente. O interior é surpreendentemente leve e arejado, resultado dos muitos vidros que o compõem; passamos pelo enorme monumento ao Duque de Wellington e paramos no meio do transepto para olhar em direcção ao céu e poder ver o maravilhoso domo (um dos três maiores do mundo). Depois de uma passagem pela cripta, ascendemos às galerias, corajosamente subimos os 530 degraus que nos levam à Golden Gallery, e somos recompensados com uma vista soberba de Londres. Retornamos ao piso térreo da catedral, onde somos banhados pela “Luz do Mundo”, uma obra-prima de William Holman Hunt. Saímos da catedral cansados, mas não nos deixamos vencer; o Science Museum espera por nós e não equecemos o Victoria & Albert Museum, que contém a maior colecção de arte decorativa do mundo, a Tate Gallery, santuário da arte britância desde 1500 até aos nossos dias, e o mais recente Cartoon Museum.
No último dia separamo-nos; os desportistas vão dar uma volta de cavalo em Hyde Park e patinar no gelo no Broadgate Ice Rink, os mais consumistas arriscam uma ida às lojas dos maiores costureiros, joalheiros e relojoeiros, em Bond Street e New Bond Stree, mas venho a saber mais tarde que acabaram no Harrrods e nos mercados de Petticoat Lane (velharias) e no Leadenholl Market (queijos, frutas e flores). Há quem vá passar ums boas horas em Oxford ou a Stratford-upon-Avon, em busca de Shakespeare. Eu não resisto à minha grande paixão e mergulho no mundo aparentemente desordenado da livraria Foyles e na Amy Amount of Books (milhares livros em segunda-mão) quando já me sobram poucas libras no bolso, mas o prazer de folhear os livros e de adivinhar, através de frases e palavras capturadas ao acaso, as muitas histórias que eles têm para contar e partilhar é suficiente para me sentir satisfeita.
Em jeito de despedida, e numa homenagem a Oscar Wilde, terminamos o nosso dia e a nossa estada em Londres, no Café Royale.
Maria Teresa Loureiro
In: FrontLine

3 comentários:

paulo alexandre disse...

Tal como diziam os "clash". Desta forma Londres tem mais encanto.

Doramar disse...

Sem dúvida!
Ao ler-te fui percorrendo os mesmos caminhos. Fiquei com água na boca, tenho saudades de Londres...

Eigazz disse...

Estou por London a menos de um mes e nesse tempo pouco sai pois me encontrava com amigos que não entendiam o quanto gostaria de saborear a verdadeira magia e poder desta cidade que nunca para... mas foi bem dificil a tarefa de os convencer... ate ler o teu blog... pode ter sido so um desabafo teu ou um não esquecer de bons momentos... mas... para mim foi por em papel os meus sentimentos a minha vontade. Foste tão bem sucedido que nete momento libertaste mais 3 mentes.Obrigado