terça-feira, 9 de dezembro de 2008

“London Calling”

O segredo para desfrutar em pleno de uma visita, mais ou menos prolongada, a Londres é não ter pressa, nem a ilusão de que conseguimos ver tudo e, sobretudo, saber aproveitar os simples prazeres títpicos da capital inglesa. Num primeiro momento, esqueçamos os museus, os monumentos e as lojas cheias de gente do West End. Comecemos por explorar as ruas e mercados (Brick Lane e Portobello Road são ideais para encontrar roupas e adereços e Borough é o mercado de comida mais antigo de Londres), por passear pelos parques (Hyde Park, Kensington Gardens, St. James Park ou Regent’s Park) e por cavaquear num pub, à frente de uma cerveja quente e escura, extraída de um barril de carvalho, ou apenas tomar o “chá das cinco” no Ritz, no Dorchester ou no Browns. Podemos, ainda, fazer-nos ao rio nas Docklands, no Docklands Waterports Centre, ou, tão-somente, explorar a cidade a partir de um cruzeiro no Tamisa que nos leva até Greenwich.
Despois de uma primeira aproximação à verdadeira alma da cidade, estamos prontos para nos embrenharmos na sua grandiosidade histórica e cultural, sem esquecer de ir aproveitando a comida tão apreciada por Charles Dickens e Oscar Wilde; uma tarte quente ou um pudim de Yorkshire caem bem a qualquer hora do dia.
Londres é a mais velha das grandes cidades do mundo moderno; mantém intocadas as suas praças cobertas de folhas, os seus parques e as suas pequenas igrejas, mas tem vindo a mudar e a desenvolver-se. Verificamos que a zona portuária está a ser revitalizada e descobrimos novos pontos de referência, como o London Eye (Olho de Londres) – a maior roda do mundo, fruto das celebrações do Milénio, que se ergue a 135 metros sobre o Tamisa, oferecendo uma vista panorâmica sobre a cidade – ou a Swiss Re Tower, de Norman Foster (conhecida como o Pepino, devido ao seu formato). Lemos algures que a superfície do East End será restaurada nos próximos anos, anunciando os Jogos Olímpicos de 2012.
Iniciamos o segundo dia, e todos os que se seguem, com um estimulante pequeno-almoço, bem ao jeito britânico; ovos, bacon, cogumelos, feijões assados e tostas e sentimo-nos preparados para palmilhar a cidade sem receio de desfalecer a meio caminho. Partimos rumo às visitas obrigatórias.
Fundado em 1753 a partir da colecção de Sir Hans Sloane, o British Museum alberga uma extensa colecção de antiguidades. Deliciamo-nos com a melhor colecção de relógios do mundo e temos a sorte de ouvir a ‘sinfonia’ de todos os relógios a baterem as horas em uníssono. As Casa do Parlamento, sede actual do Governo Britânico, datam de 1050, quando William, o Conquistador construiu o Westminster Palace neste local. Admiramos a famosa torre do relógio, mais conhecida por Big Ben, que na verdade é o nome do sino de 13 toneladas que marca cada hora que passa com as suas badaladas, e ficamos a saber que de noite, quando o Parlamento está reunido, surge uma luz sobre o ‘rosto’ do Big Ben.
A National Gallery possui uma invejável colecção de 2.000 quadros, representativos da arte ocidental. Na Ala Sainsbury encontramos as obras mais antigas, pintadas entre 1260 e 1510 e não deixamos escapar o desenho de Leonardo da Vinci, “A Virgem e o Menino” e a “Vénus e Marte”, de Boticcelli.
Após alguma hesitação, entramos no National History Museum; não resistimos a sentir o Poder Vindo do Interior, uma simulação de um tremor de terra real acompanhada por incríveis filmagens de vulcões e dos seus efeitos devastadores. Uma experiência impressionante que nos faz concordar em terminar as visitas “de peso” por ali. Ainda é relativamente cedo, pelo que nos dirigimos para Convent Garden (The Piazza). Planeada ao estilo italiano, pelo arquitecto Inigo Jones (séculos XVI/XVII), esta é a mais continental das praças londrinas; lojas, boutiques, wine bars e snack bars, malabaristas, músicos, palhaços e actores de improviso fazem-nos esquecer abalos de terra e vulcões.
A manhã acorda cinzenta e húmida, o famoso “fog” cobre a cidade, mas não nos deixamos abater e lançamo-nos a mais um dia de descobertas. Não damos pelo frio enquanto nos embevecemos com a fachada ocidental da Saint Paul’s Cathedral, a igreja mãe da diocese de Londres, obra suprema de Sir Christopher Wren. Entramos finalmente. O interior é surpreendentemente leve e arejado, resultado dos muitos vidros que o compõem; passamos pelo enorme monumento ao Duque de Wellington e paramos no meio do transepto para olhar em direcção ao céu e poder ver o maravilhoso domo (um dos três maiores do mundo). Depois de uma passagem pela cripta, ascendemos às galerias, corajosamente subimos os 530 degraus que nos levam à Golden Gallery, e somos recompensados com uma vista soberba de Londres. Retornamos ao piso térreo da catedral, onde somos banhados pela “Luz do Mundo”, uma obra-prima de William Holman Hunt. Saímos da catedral cansados, mas não nos deixamos vencer; o Science Museum espera por nós e não equecemos o Victoria & Albert Museum, que contém a maior colecção de arte decorativa do mundo, a Tate Gallery, santuário da arte britância desde 1500 até aos nossos dias, e o mais recente Cartoon Museum.
No último dia separamo-nos; os desportistas vão dar uma volta de cavalo em Hyde Park e patinar no gelo no Broadgate Ice Rink, os mais consumistas arriscam uma ida às lojas dos maiores costureiros, joalheiros e relojoeiros, em Bond Street e New Bond Stree, mas venho a saber mais tarde que acabaram no Harrrods e nos mercados de Petticoat Lane (velharias) e no Leadenholl Market (queijos, frutas e flores). Há quem vá passar ums boas horas em Oxford ou a Stratford-upon-Avon, em busca de Shakespeare. Eu não resisto à minha grande paixão e mergulho no mundo aparentemente desordenado da livraria Foyles e na Amy Amount of Books (milhares livros em segunda-mão) quando já me sobram poucas libras no bolso, mas o prazer de folhear os livros e de adivinhar, através de frases e palavras capturadas ao acaso, as muitas histórias que eles têm para contar e partilhar é suficiente para me sentir satisfeita.
Em jeito de despedida, e numa homenagem a Oscar Wilde, terminamos o nosso dia e a nossa estada em Londres, no Café Royale.
Maria Teresa Loureiro
In: FrontLine

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Veneza, um sonho que nunca se desvenda

Fonte de inspiração de romances e contos policiais, palco de filmes que fazem parte do nosso imaginário romântico, Veneza é uma cidade enigmática que habita os nossos sonhos desde criança e fomenta a nossa vontade de viajar e conhecer o mundo; neste caso, um pequeno mundo, sem carros, onde só se anda a pé, de barco, ou de gôngola.
Com uma traça urbanística ainda claramente medieval, Veneza estende o seu mistério, discretamente, ao longo de 118 ilhas; palazzi góticos e elegantes construções renascentistas e barrocas equilibram-se sobre milhões e milhões de troncos de árvores que servem de sustentação a toda a cidade.
Chegar a Veneza deixa-nos sem ar perante a versatilidade e beleza do ambiente que nos vai envolvendo; tanto somos inundados por espectáculos de cor e luz que parecem partir das fachadas de ouro e de mármore dos palácios, como somos absorvidos pelas sombras das ruas e ruelas ao longo dos muitos canais que desenham a sua malha urbana.
Esquecemos os turistas com os quais nos cruzamos em cada esquina, resistimos às lojas de “souvenirs” e deixamo-nos ir ao sabor de uma viagem onírica, à descoberta do que faz desta cidade uma das mais belas e enigmáticas do mundo.
Damos por nós na Praça de San Marco, sem que consigamos lembrar-nos de como chegámos a esta grandiosa praça habitada por dezenas de pombas que insistem em dar-nos as boas-vindas; talvez de vaporetto ou de gôndola, ou quem sabe, de táxi-barco. Na verdade, pouco importa, o que vemos à nossa volta torna qualquer preocupação uma futilidade sem interesse. Não sabemos por onde começar a nossa deambulação; hesitamos entre ir beber um capuccino ao café Florian, na esperança de sentir no ar uma brisa fugaz da genialidade de Proust, Balzac ou Twain, visitar o Palácio dos Doges ou ofuscarmo-nos com o brilho dourado, algo irreal, do Museu da Basílica de San Marco, mas o bater das horas recorda-nos que o tempo não pára e é sempre escasso. Admiramos o belíssimo campanário renascentista, azul-dourado da Torre Orologio e, do outro lado da praça, a imponente Torre de San Marco. O dia está morno, o que nos dá coragem para subir pela escada os cerca de 90 metros até ao topo da Torre de San Marco. Daí a vista sobre Veneza é magnífica; está um dia límpido, o que, segundo já ouvimos comentar, nem sempre acontece; para lá do Gran Canal avistamos a igreja de San Giorgio Maggiore e o mosteiro que a circunda, na ilha de San Giorgio, um dos locais que temos programado para mais tarde. Regressamos à Plaza San Marco, desta vez de elevador.
Depois de uma breve discussão, acabo por deixar os meus companheiros de viagem num dos bares preferidos de Hemingway, o Harry’s Bar, a beber um tiziano* e vou ‘suspirar’ para outros lados. Nas traseiras do Palácio dos Doges imagino o desespero dos presos que faziam a sua última travessia do rio Palazzo, através da Ponte dos Suspiros. A impressionante ponte do século XVII levava-os aos escaldantes e desumanos piombi**; só permitindo, a quem cá fora lamentava a sorte dos prisioneiros, adivinhar os seus olhares angustiados e aterrorizados. Atordoada pela minha imaginação, nem sou capaz de apreciar a elegância renascentista da fachada da prisão. Refugio-me no Harry’s Bar e afogo a angústia num delicioso bellini***.
Retomamos a cruzada veneziana e passamos pelo Hotel Flora, onde, apaixonados pelo seu jardim, combinamos tomar o pequeno-almoço do dia seguinte. Atravessamos o rio San Moisé e seguimos pela Calle Largo 22 Marzo, assim chamada em homenagem à data em que os austríacos foram banidos da cidade, em 1848; Passamos pelo imponente Palácio da Bolsa e uma ruela leva-nos ao Teatro la Fenice. Pouco passa do meio-dia, mas a caminhada deixa-nos com fome; decidimos ir ao Poste Vecie (Correios Velhos, em português), famoso pelos tradicionais pratos venezianos de peixe e legumes.
Reservamos a tarde para o encontro com Giovanni Bellini, Andrea Mantegna, Ticiano, Paolo Veronese, Canaletto e Tiepolo, na Galleria dell’Academia e, com sorte, ainda temos tempo de visitar a Colecção Guggenheim, num palazzo que abre as suas ‘portas de água’ sobre o Gran Canal. A charmosa casa onde viveu Peggy Guggenheim reúne obras dos maiores autores de arte moderna, desde Chagall, a Kandisnsky, Klee, Magritte, Picasso ou Pollock.
No dia seguinte acordamos cedo e, depois do pequeno-almoço, atravessamos o Gran Canal, de gôndola, e dedicamos parte da manhã a explorar a zona do Dorsoduro e de San Pólo; descobrimos uma pitoresca oficina de gôndolas (Squero di San Trovaso), frescos de Veronese, na igreja de San Sebastian, pinturas de Tiepolo, na Scuola Grande dei Carmini, e acabamos por desembocar no mercado Santa Margherita, um contraste de cor com as suas bancas de produtos frescos. Estamos em plena zona comercial; avançamos mais um pouco e damos com o Mercado do Rialto, onde é possível encontrar de tudo, desde peixe, carne, legumes e todo o género de bugigangas. Em Veneza nunca se sabe o que nos vai surgir pela frente, depois de mais um canal, ao atravessar uma praça ou no fim de mais uma ruela; é sempre uma surpresa. A poucos metros de um mercado, eis que descobrimos uma igreja, logo a seguir, um palácio de arquitectura renascentista, um pouco mais adiante, um museu, talvez o Museu Correr, ou, quem sabe, apenas fachadas, mais ou menos bem conservadas, com janelas que quase se tocam. E os venezianos, que já se habituaram a ver a sua cidade quase permanentemente invadida por turistas de todos os cantos do mundo. O segredo é simples; basta deixarmo-nos ir ao sabor da ondulação suave dos canais, sem traçarmos grandes trajectos e evitando criar expectativas.
Deixamos os último dia para dar um passeio de barco que nos leva a Burano e à ilha dos vidreiros, Murano, onde não podemos deixar de visitar o Museo Vetrario (Museu do Vidro), e terminamos a nossa aventura veneziana numa praia do Lido. Esta ilha estreita foi palco do primeiro festival de cinema do mundo, em1932, que é ainda hoje, um dos momentos altos da vida mundano-cultural de Veneza e do mundo do cinema.
No final de mais um dia, do nosso último dia em Veneza, estamos esvaziados de palavras, mesmo que tivéssemos energia e vontade, não saberiamos o que dizer uns aos outros. Temos os olhos brilhantes de satisfação e um sorriso indecifrável estampado na cara; sentimos que a cidade faz agora parte de nós, agarrou-se à nossa pele, como uma paixão consumada, mas que nunca se vai esfumar. Veneza é assim mesmo, um lugar único no mundo que fica gravado na memória.


* “Tiziano” – cocktail com 2/3 de vinho Prosecco e 1/3 de sumo de uva preta.
** “Piombi” - celas com telhado de chumbo.
*** “Bellini” – cocktail com 2/3 de vinho Prosecco e 1/3 de sumo de pêssego.
In: Revista "FrontLine", Outubro, 2008

Macau, ou Àomén, as metamorfoses de uma cidade de culto

Os primeiros mercadores e jesuítas portugueses desembarcaram em Macau no século XVI. Nessa altura, os pescadores e agricultores que aí viviam chamavam à sua terra Ou Mun (Porta da Baía), por esta se localizar na foz do Rio das Pérolas, ou A-Má Gao (Baía de A-Má). Uma lenda local conta que um humilde pescador levou A-Má, uma linda rapariga, para Cantão; durante a travessia, o barco onde seguiam foi o único poupado à fúria da tempestade. Quando finalmente chegaram a Macau, A-Má desapareceu para surgir, pouco tempo depois, transformada numa deusa. Nesse lugar foi construído um templo em sua honra. Ainda hoje é possível visitar o Templo de A-Má, à entrada do Porto Interior, que continua a ser um lugar de culto para muitos macaenses e chineses. Em várias partes do Sudeste Asiático, a deusa A-Má é considerada a protectora dos pescadores e marinheiros. Desde Julho de 2005 que o Templo de A-Má, juntamente com as Ruínas de São Paulo, faz parte do Património Cultural da Humanidade da UNESCO.
Durante os 450 anos seguintes após a chegada dos portugueses, o território, hoje com uma área total de quase vinte e oito quilómetros quadrados, compreendendo a ilha da Taipa e de Coloane, esteve sob a administração portuguesa. Em 1999, ano da transferência da soberania, Macau passou a fazer parte da República Popular da China, auferindo do estatuto de Região Administrativa Especial e, como a vizinha Hong Kong, passou a beneficiar do princípio “um país, dois sistema”.
Para quem hoje visita Macau, a presença portuguesa está um pouco diluída, mas continua presente, em especial no património artquitectónico e cultural. Depois de uma visita ao templo de A-Má e ao Museu Marítimo ali bem perto, percorrer o emaranhado de ruas até chegar ao coração simbólico de Macau - o Largo do Senado - é uma experiência inolvidável. A estação central dos correios, a Santa Casa da Misericórdia e o Leal Senado são alguns dos edifícios da época colonial que fazem do Largo do Senado um dos lugares mais procurados pelos turistas. A calçada típica portuguesa que torna este largo um dos mais carismáticos da cidade é invadida durante todo o ano por variadíssimos eventos culturais e artísticos que o dinamizam e envolvem de luz e cor. As muitas casas de pasto que se escondem sob as arcadas convidam a provar a rica gastronomia macaense que é fruto da fusão das cozinhas portuguesa, chinesa e indiana.
A um passo do Largo do Senado encontramos a Fortaleza do Monte, construída no ano de 1616, que albergou a primeira colónia portuguesa. Actualmente os seus canhões apontam a uma cidade em constante evolução, onde conflui o moderno e o antigo. Da Fortaleza vê-se o que resta da Igreja de São Paulo, destruída em 1835 por um grande incêndio; da antiga igreja barroca onde se diz estar esculpida a história da religião católica na Ásia já só resta a fachada ao cimo de uma imponente escadaria. Vale a pena visitar o Museu de Macau que, através de réplicas e quadros explicativos, nos dá uma visão da presença portuguesa no Oriente.
É sempre um prazer para os sentidos passear pela Avenida da Praia Grande, apesar de algumas alterações impostas pela necessidade de requalificação do espaço urbano. De entre todas as construções coloniais que ladeiam a Avenida, é indispensável espreitar a antiga Residência do Governador que, infelizmente, não está aberta ao público.
Outros lugares de visita obrigatória são: o Templo de Na Tcha, o Templo de Sam Kai Vui Kun, símbolo da arquitectura tradicional chinesa, o Templo Tai Soi, popular entre as mulheres que o visitam com oferendas à Deusa da Fertilidade, as Portas do Cerco, o Quartel dos Mouros e o Forte da Guia, construído em 1637, que permite uma das mais espectaculares vistas sobre a cidade, só superada pela moderna Torre de Macau, com 338 metros de altura. Esta torre, visível de toda a península, permite vislumbrar as ilhas em redor de Hong Kong nos dias mais límpidos.
Macau aposta em particular no turismo e no jogo; estas são afinal as duas actividades que garantem a sustentabilidade da região, por isso oferece uma recheada agenda cultural e artística, assim como um extenso calendário de festas. Desde a gastronomia ao golfe, passando pelas artes e desporto, a cidade anima-se durante as 24 horas do dia todos os dias do ano.
Bares e pubs com música ao vivo e karaoke, discotecas com música internacional e música cantada em cantonense e mandarim, restaurantes de cozinhas de outras partes do mundo, acessíveis a todas as bolsas, e muitas lojas de comércio mantêm durante toda a noite as portas abertas para um público ávido de diversão.
São muitos os casinos em Macau e na Ilha da Taipa que aliciam com o sonho do dinheiro fácil. Se quisermos arriscar algumas patacas, o casino do mítico Hotel Lisboa é uma opção interessante; este hotel dispõe, ainda, de áreas de restauração, comércio e espectáculos de cabaré, ao bom estilo parisiense. As corridas de galgos e as corridas de cavalos podem ser uma alternativa para quem queira tentar a sorte, ou simplesmente para passar o tempo de forma emocionante.
Sendo uma cidade que se esmera na arte de bem receber, Macau moderniza permanentemente as suas infra-estruturas, levando a que grandes cadeias hoteleiras, como a Hilton Hotels Corporation, o grupo Malásia Sgangri-la Hotels and Resorts, o Four Seasons Hotels and Resorts, o Accord/Sofitel, entre outros, invistam no território, criando acomodações de lazer e bem-estar que tornam este destino um dos mais apelativos do mundo.
O Macau Golf and Country Club, perto da praia de Hac-Sá, na Ilha de Coloane, é um exemplo de um dos grandes investimentos feitos na península para atrair entusiastas de todo o mundo. Contando com a presença de alguns dos maiores nomes deste desporto, o “Open de Golfe de Macau” faz já parte do circuito internacional de golfe e é uma oportunidade de excepção para os praticantes da modalidade se confrontarem e desenvolverem as suas técnicas ao lado dos melhores a nível mundial.
Se quisermos fugir ao ritmo acelerado da cidade, podemos programar um dia calmo em contacto com a natureza. A maioria dos jardins públicos prima pela harmoniosa conjugação de elementos do Ocidente e do Oriente, criando assim espaços ideais para ensaiar alguns movimentos relaxantes de Tai chi. Acordemos cedo e tentemos que um dos muitos praticantes de Tai chi nos ensine alguns movimentos ‘mágicos’ desta arte marcial tradicional chinesa. Depois de um pequeno-almoço regenerador, lançamo-nos numa caminhada através das colinas da Ilha da Taipa e da Ilha de Coloane, onde existem trilhos seguros que oferecem vistas magníficas sobre o rio. De regresso à cidade, damos uma volta de riquexó pela baixa e, depois de um Spa, onde podemos recuperar as energias, terminamos o dia num restaurante da Rua da Felicidade (onde no passado se localizavam as casa de consumo de ópio e de outros prazeres) e deliciamo-nos com uma sopa de barbatana de tubarão, logo seguida de porco agridoce, não esquecendo o arroz, e a acompanhar, um chá de jasmin (“Heong pin t’chá”) ou um chá vermelho (“Pou lei”).
Nas praias de Hac-Sá e de Cheoc Van, na Ilha de Coloane, os amantes dos desportos náuticos têm a possibilidade de passar momentos estimulantes; praticar windsurf, ter aulas de vela, alugar motas de água ou simplesmente nadar nas suas águas mornas. Os areais são rodeados por diversos locais de lazer que se escondem no meio da vegetação; restaurantes chineses e portugueses, parques para piqueniques, espaços especialmente pensados para as crianças e cortes de ténis, tudo para receber com elevados padrões de qualidade turistas e veraneantes exigentes.Cumprindo a sua vocação de cidade portuária, Macau tem sido ponto de partida e de chegada de muitas culturas e tradições e uma ponte de interligação entre o Oriente e o Ocidente. A coexistência harmoniosa das várias comunidades residentes e a convergência de valores, crenças religiosas, costumes, hábitos, tradições e estilos arquitectónicos fazem de Macau um lugar tolerante e único no mundo.
In: Revista "FrontLine", Outubro, 2008

Paris, a Capital do Charme

Conhecida como a Cidade das Luzes, Paris é a capital do charme e do romantismo; acolhedora para quem pretende desfrutar de uma ampla oferta cultural e gastronómica ou apenas percorrer os seus “boulevards” apreciando a beleza da arquitectura e a paz dos parques e recantos acolhedores.
Hoje é difícil de imaginar, mas quando foi conquistada pelos Romanos, em 55 a.C., não passava de uma pequena aldeia de pescadores na Ile de la Cité, habitada pela tribo dos Parisii. Os Romanos fizeram a cidade crescer para além de ambas as margens do rio Sena, mas só quando foi tomada pelo Francos, tornando-se a capital do reino, é que recebeu a designação de Paris. No Iluminismo, o poder e a riqueza do reinado de Luís XIV transformaram a cidade num pólo cultural incontornável. Após a revolução de 1789, que acabou com o poder real, Napoleão Bonaparte, autoproclamado imperador de França, propôs-se transformar Paris no centro do mundo, e, de algum modo, conseguiu-o. A ocupação nazi, durante a Segunda Guerra Mundial, desferiu-lhe golpes impiedosos, mas a força criativa e cultural da cidade manteve-se inabalada.
Símbolo da paisagem parisiense, a imponente Torre Eiffel, construída em 1889 por Gustav Eiffel, ergue-se a 320 metros de altura, permitindo ter uma vista previlegiada sobre a cidade. Este pode ser o local ideal para começar uma visita a Paris e delinear o percurso que mais se adeqúe à disponibilidade e curiosidade de cada um.
Nos Champs Elysées, a avenida mais famosa da capital francesa, as lojas de estilistas famosos, como Chanel, Christian Lacroix, Cartier, Balenciaga, Christian Dior, Gucci, Hermés, os cinemas e os cafés atraem turistas e parisienses que anseiam por se manter a par das últimas tendências da moda. O Arco do Triunfo, na praça Charles de Gaulle (Étoile), construído em 1836 por Napoleão para celebrar as suas vitórias, é actualmente ponto de partida para celebrações e desfiles que assinalam datas importantes; a sua plataforma panorâmica oferece uma vista sobre os Champs Elysées, de um lado, e no lado oposto, uma prespectiva do moderno centro empresarial de La Défense.
Passear no Sena, nos famosos bateaux mouches, é uma óptima oportunidade de olhar a cidade de uma perspectiva diferente e, também de apreciar as muitas pontes que ligam as margens do rio, entre as quais se destacam: a ponte des Arts, a primeira ponte de ferro francesa, construída em 1804, a ponte Alexandre III, a mais ornamentada de Paris, que liga o Grand Palais e o Petit Palais ao Dôme des Invalides, entre mais de uma dezena de outras.
No coração da pequena Île de la Cité ergue-se, majestosa, a catedral de Notre Dame de Paris, cuja construção teve início em 1163 e só terminou em 1330. Dos 167 anos de trabalhos que envolveram milhares de arquitectos e artesãos resultou uma obra-prima do Gótico que continua a exercer um fascínio sobre quem a visita. Os seus belos vitrais e pinturas, as suas torres e estátuas de grotescas criaturas (gárgulas) que parecem espiar a cidade, são um marco na história e na paisagem da cidade.
Noutro ponto, no topo da montanha de Montmartre, a Basílica de Sacré-Coeur impõe-se com o seu campanário, que alberga um dos sinos mais pesados do mundo, e com a cor branca, imune às poeiras do Verão e às chuvas de Inverno. Fruto do cumprimento de um voto religioso de dois empresários franceses, a Basílica foi erigida entre 1875 e 1914, como agradecimento por Paris ter sido poupada à invasão prussiana.
A capital francesa tem jardins e parques para todos os estados de espírito e temperamentos; o Bois de Boulogne e o Bois de Vincenes envolvem a cidade e são lugares ideais para descansar e apreciar a beleza colorida da vegetação e o perfume delicado das variadas flores. O Jardin du Luxemburg, bem no centro da cidade, é o melhor refúgio para quem quer fugir por momentos à vida animada do Quartier Latin, ou para quem apenas pretende pôr a leitura em dia e fazer uma pausa para pensar.
O Quartier Latin, no lado direito do rio Sena, continua a ser o centro da vida social da cidade; livrarias, como a famosa Shakespeare & Co, na Rue de la Bûcherie, cafés, cinemas e clubes de jazz são algumas das propostas deste antigo bairro repleto de História e de histórias. Passear por Saint Michel e Saint Germain é passear por uma parte importante do legado político e cultural do século XX. Duas visitas aconselhadas: o museu de Cluny que alberga uma das mais importantes colecções de arte medieval do mundo, e o Panthéon, construído na época de Luís XV, onde estão sepultados Napoleão, Voltaire, Rousseau, Victor Hugo, Émile Zola, entre outros.
Paris é, ainda um paraíso para quem gosta de museus. O grandioso Louvre, entre o rio Sena e a Rue Rivoli, foi construído em 1190 como fortaleza contra os ataques dos Vikings. Depois de quatro séculos e de várias reformas, inclusive a polémica pirâmide de vidro, o Louvre alberga algumas das colecções mais importantes do mundo; Rembrand, Rafael, Leonardo da Vinci, são alguns dos atractivos que tornam a sua visita obrigatória. Indispensável, também, é dedicar um dia ao Musée d’Orsay, antiga estação de comboios transformada em lugar de culto para quem gosta dos impressionistas. Obras de Rodin, Monet, Gaugin, Renoir, etc. outrora expostos no pequeno Musée Jeu de Pomme podem agora respirar neste espaço amplo e repleto de luz.
O Museu Picasso, situado num antigo hotel do século XVII, no Marais, reúne obras do maior pintor do século XX. Tem cerca de 350 desenhos, aguarelas, pastéis, guaches, e um bonito jardim com esculturas.
O Centre Pompidou, em Beaubourg, com a sua arquitectura “high-tech”, inspirada na arquitectura industrial e nas novas tecnologias, parece um edifício saído do futuro. Este Centro de acontecimentos culturais, baptizado em homenagem a Georges Pompidou, é famoso pelo seu Museu de Arte Moderna, que cobre a arte do século XX, do Fauvismo e do Cubismo ao Abstracto do pós-guerra e às instalações de vídeo. Vale a pena uma visita ao restaurante na cobertura do edifício.
Uma referência breve ao Parc de la Villette; com os seus 25 hectares recuperados a um antigo matadouro, é o maior parque urbano de Paris e a segunda maior área verde, depois do Cemitério do Père-Lachaise. Dedicado à Música e à Ciência, o Parc de la Villette é, também, conhecido como a Cité des Sciences et de l’Industrie.
À noite Paris renasce como uma das mais românticas cidades do mundo, é a altura dos concertos, das dicotecas, das peças de teatro, ou, tão-somente a hora ideal para apreciar um bom vinho e as famosas iguarias da gastronomia francesa na companhia de alguém especial.
Publicado in: Revista Unforgettable

terça-feira, 8 de julho de 2008

"Gomorra"

Gomorra, de Roberto Saviano, é um relato impressionante sobre o poder empresarial e as práticas criminosas da Camorra napolitana. Num registo documental, Saviano desvenda as novas lógicas e as novas dinâmicas do crime organizado, da sua estrutura e das suas ramificações, descrevendo os investimentos, legais e ilegais, nos mais variados sectores – recolha e tratamento de lixos, construção civil, empresas de saneamento, venda a retalho, produção têxtil, importação e exportação de electrodomésticos e outros bens de consumo, etc. Tudo isto faz parte de uma nova face da economia do crime, das novas fontes de rendimento que o alimentam e perpetuam.
Mas Gomorra é também a história de homens marcados por um lugar, “um lugar onde o mal se torna todo o mal e o bem todo o bem”, como se aí só fosse possível escolher um de dois caminhos: para o céu ou para o inferno, sem espaço para hesitações, nem zonas cinzentas. Nápoles é uma cidade que se deixa estigmatizar pelo “Sistema”, uma cidade que se fecha sobre si própria, apesar de ter um dos portos mais movimentados do mundo. Nápoles é uma pústula a apodrecer ao Sol, aparentemente sem salvação possível. “ (…) levantou-se de manhã cedo e foi ao lugar onde tinha estado na presença do Senhor. Voltando os olhos para o lado de Sodoma e Gomorra e para a extensão do vale, viu elevar-se da terra um fumo semelhante ao fumo de uma fornalha.” (Génesis 19, 27)

Maria Teresa Loureiro
In: Revista LER, Julho 2008

Arquitecturas do Acaso

“Abrir as portas ao acaso significa estar vivo.” É com esta frase que Stefan Klein encerra o livro cujo tema põe em causa a ordem ilusória em que vivemos: o papel inquestionável do acaso na nossa existência.
Destino ou acaso, será a escolha uma questão de fé? Admitir que a nossa vida cumpre um caminho preestabelecido deixa-nos mais descontraídos e alimenta esta nossa sede de compreender e dominar o mundo. Gostaríamos de poder desvendar o futuro, pois achamos que, se nos livrássemos do inesperado, a nossa vida passaria a ser mais agradável, mas esquecemo-nos o quanto nos aborrece a monotonia e que os imprevistos acabam por tornar a nossa existência empolgante. O cérebro ajuda-nos nesta tendência para subestimar os efeitos do acaso, pois, sendo defensor da simplificação e da padronização, dota-nos de truques cuja função, nem sempre ideal, é levar-nos a só ver o que queremos e a transformar a mais evidente coincidência casual numa ocorrência estrategicamente delineada pelo destino. E na verdade, será que estamos dispostos a acreditar que os acontecimentos e acasos com que os nossos filhos se deparam todos os dias influenciam mais a evolução do relacionamento que eles estabelecem com o mundo que os rodeia fora de casa do que a educação que nos esforçamos por lhes dar, e de que tanto nos orgulhamos?
“O sucesso é composto por 95% de sorte e 5% de capacidade.” Klein socorre-se das palavras do filantropo americano Julius Rosenwald, para nos avisar que o sucesso pouco depende da nossa vontade, são demasiadas as circunstâncias e as coincidências que interferem nos rumos que traçamos. Resta-nos aprender a tirar o melhor partido dessas forças aleatórias e imprevisíveis, para reduzirmos as consequentes perdas e impactos negativos, e admitir o “jeito” que, por vezes, nos dá ser o acaso a decidir por nós, evitando-nos posteriores sentimentos de culpa; só assim conseguimos avançar e evoluir.
Leonardo da Vinci “procurava conscientemente os acasos como fonte de inspiração para as suas criações”, era a sua maneira de se sentir livre. Embora nos dê a sensação de fazermos parte de um jogo que não dominamos e, por vezes, nos surpreenda com ocorrências dolorosas e negativas, o acaso torna-nos mais atentos e estimula a nossa imaginação e criatividade; comanda as nossas vidas, mas garante-nos a emoção do inesperado.

Maria Teresa Loureiro
In: Revista LER, Julho 2008

terça-feira, 3 de junho de 2008

A Vida e as Aventuras do Rapaz Relâmpago

"A Vida e as Aventuras do Rapaz Relâmpago" é o testemunho que Bill Bryson nos oferece da década de 50, do século XX. Nessa época quase todos os heróis viviam nos EUA; o Super-Homem, o Sky King, o Zorro, o Roy Rogers, a Mary O’Leary, as chefias políticas e militares, os cientistas e os intelectuais, alguns outros adultos, quase todas as crianças e o próprio Bill Bryson, quando ainda vestia a “Sagrada Camisola de Zap”, heróis quase sempre desmentidos nas suas virtudes pelos juízos da História.
Eram anos com “propostas pouco realistas”, em que todos se sentiam felizes por consumir novos produtos. Tudo parecia ser benéfico e era recebido com euforia; desde os electrodomésticos, a comida instantânea, uma cartilha ideológica, a televisão, os carros, até aos primeiros testes nucleares.
Bill Bryson constrói uma narrativa que deixa perceber paralelismos entre os comportamentos dos heróis das histórias aos quadradinhos, muitas das quais lidas no “Curral dos Miúdos”, as séries televisivas, os filmes de ficção científica, e os comportamentos sociais de uma América branca que se julgava a si própria indestrutível.
Como todos os super-heróis, o Rapaz Relâmpago vem de um planeta distante (Electrão), mas aprende a gostar do planeta onde passa a viver, aprende a gostar dos pais presuntivos, dos colegas de escola, da cidade onde mora, enfim, do mundo que o rodeia.
“Este é um livro sobre pouca coisa: sobre ser pequeno e ficar maior lentamente.” Mas talvez, nenhuma, nem todas reunidas, as virtudes heróicas por si só sejam suficientes para conseguir a imortalidade. Maria Teresa Loureiro.
In: Revista LER, Junho de 2008