sexta-feira, 9 de maio de 2008

O Menino Que Queria Viver Com o Sol

Era uma vez um menino que queria viver com o Sol. Não lhe chegava adivinhá-lo lá no alto, escondido pelas nuvens ou a espreitar por detrás das montanhas. O que o menino queria mesmo era viver com ele: brincar às escondidas, à apanhada, à cabra-cega, enfim, a tudo o que os meninos gostam de brincar.

O que o menino queria mesmo era brincar com o Sol. Vivia numa aldeia muito pequenina. Só tinha dez casinhas, uma escolinha e uma igreja, também miniatura. Os habitantes da aldeia eram muito poucos e não havia meninos da idade do menino que queria viver com o Sol.
A aldeia tinha um nome muito engraçado - Cantinho à Espera do Sol - e ficava aconchegada bem no fundo de uma colina, entre duas montanhas muito altas que no inverno ficavam cobertas de neve até meio caminho.

Ora o menino que queria ser amigo do Sol tinha um nome engraçado, chamava-se Mínimo. É que antes de ele nascer, os pais, e todos os habitantes do Cantinho à Espera do Sol, tinham decidido, depois de muitas conversas e discussões prolongadas pela noite dentro, dar-lhe o nome de Máximo, ou Máxima se fosse rapariga, pois ia ser o primeiro bebé a nascer na aldeia nos últimos cinco anos. E isso era o “máximo” de felicidade para todos.

Só que no dia em que o menino nasceu e deu o seu primeiro grito fora da barriguinha da mãe, todos ficaram muito atrapalhados quando repararam que era um menino muito pequenino. E logo ali, num dos quartos da casa do médico que ajudara o menino a nascer, e sem mais demoras, o Presidente da Câmara do Cantinho à Espera do Sol disse aos pais que era melhor trocar o nome do menino, pois ele era tão pequenino que não fazia sentido chamar-lhe Máximo. Foi assim que o menino que queria viver com o Sol quando nasceu recebeu o nome de Mínimo.

Nos primeiro meses, o menino Mínimo chorou sem parar, durante todo o dia e parte da noite. Nada conseguia acalmá-lo, nem satisfazer. Até que um dia, no dia em que o menino Mínimo fez um ano, a senhora que trabalhava no Posto dos Correios ofereceu-lhe um brinquedo que viera ter à aldeia por engano e sem remetente, por isso a Dona Olga não podia devolvê-lo. O menino Mínimo, a meio de um dos seus berreiros de infelicidade, ficou vidrado no presente. Era um Sol, com uma cara muito redonda, muito engraçada. E o melhor de tudo é que tinha um cordelinho entre dois dos raios que lhe envolviam a cabeça que quando se puxava fazia tocar música de embalar e iluminava a cara. E para espanto de todos, esse foi o primeiro dia em que o menino não chorou, nem berrou durante todo o dia. E os pais, que já andavam desesperados, puderam finalmente descansar durante uns tempos. Até ao dia em que o gato Titó, grande traquinas, apanhou o menino Mínimo a dormir a sesta e os pais distraídos a ver televisão e roubou o Sol que dava música de embalar e iluminava a cara redonda e o escondeu em parte incerta e desconhecida. Os pais deram volta à casa e ao jardinzinho das traseiras, todos os habitantes da aldeia Cantinho à Espera do Sol andaram de rabo para o ar à procura do Sol, do menino, mas não conseguiram achá-lo.

E a birra do menino recomeçou. Mais nenhum brinquedo lhe interessava, nada o distraía da sua infelicidade. E assim passou mais um ano.

No dia em que o menino fez 2 anos, a professora da aldeia do Cantinho à Espera do Sol foi à festa de aniversário do menino Mínimo e levou-lhe um livro muito bonito que tinha um grande Sol amarelo e sorridente na capa. E o menino, logo que viu a cara do Sol ao pé do seu narizito, começou-se a rir e a palrar de felicidade. E mais uma vez os pais e todos os habitantes da aldeia pequenina puderam descansar durante uns tempos. Até ao dia em que o menino Mínimo teimou em levar o livro do Sol para tomar banho com ele. Sem que os pais tivessem tido tempo de o salvar, lá mergulhou o livro dentro da banheira cheia de água e espuma. E o menino viu o livro ir ao fundo e voltar à superfície devagarinho e desatou a chorar quando a cara do Sol começou a desfazer-se lentamente dentro da água azulada. E o martírio dos pais e de todos os habitantes da aldeia Cantinho à Espera do Sol recomeçou. Só que com uma diferença: a partir de então, os pais perceberam que o menino Mínimo gostava muito do Sol e que só o Sol é que parecia fazê-lo feliz. Foi um alívio e um grande problema também, pois a aldeia Cantinho à Espera do Sol chamava-se assim precisamente por raramente, ou quase nunca ver o Sol, pois estava bem no fundo de duas grande montanhas e estas montanhas tinham a mania de prender as nuvens entre elas e não as deixar voar para mais lado nenhum. E o Sol bem tentava espreitar, mas não conseguia nem por nada. Era um desespero para o Sol e para a aldeia que continuava Cantinho à Espera do Sol. E o menino Mínimo continuava infeliz, a chorar por não ter nenhum Sol ao pé dele.

Um dia, o pai do menino Mínimo que era um grande inventor e já estava farto de o ouvir a chorar e a embirrar pôs-se a pensar que tinha de arranjar uma solução para fazer o Sol aparecer lá no alto, entre as montanhas. Se não fossem aquelas nuvens ali presas, já velhas e cansadas de estarem no mesmo sítio já o Sol não tinha desculpa para não brilhar por cima da aldeia Cantinho à Espera do Sol e já a aldeia podia mudar de nome.

Magicou, magicou. Fartou-se de fazer desenhos e contas num rolo gigante de papel e, por fim, enfiou-se na garagem das invenções depois de dar ordens que não queria ser interrompido por nada nem por ninguém, nem para comer. Até o menino se calou de tão espantado com a voz autoritária do pai. Mas por pouco tempo, logo que o pai trancou a porta da garagem lá voltou à sua choraminguice habitual.

O pai esteve fechado na garagem das invenções três dias inteirinhos, a trabalhar sem parar, nem para dormir. Ouvia-se durante todo o dia e toda a noite os barulhos mais variados: madeira a ser serrada, pano a ser rasgado, berbequins, marteladas, etc. E na manhã do quarto dia abriu-se a porta da garagem das invenções e lá de dentro saiu uma maquineta muito estranha: parecia um pássaro gigante, mas de madeira e pano. Toda a aldeia veio ver o que se passava, tal o burburinho que, desde logo, começou a avançar pelas ruazinhas do Cantinho à Espera do Sol. O Presidente da Câmara foi o último a chegar e por isso apareceu muito mal-disposto. Nem sequer havia uma fita para ele cortar, que irresponsabilidade e falta de consideração. Mesmo assim, conseguiu abrir caminho por entre os aldeãos demasiado espantados para repararem nele, e chegou à primeira fila mesmo no limite.
(História incompleta)

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